terça-feira, 22 de julho de 2008

Passeio a Freixo - 3.ª Parte

Depois de descrever o fantástico percurso da Ribeira do Mosteiro, o passeio pela vila Freixo de Espada a Cinta, falta-me ainda falar da visita ao Penedo Durão e à Congida, para concluir um dia em cheio À Descoberta.
Já passava das cinco da tarde quando partimos em direcção ao Penedo Durão. Eu recordo bem a vista magnífica que daí se tem! Creio que a última vez que ali estive foi num passeio escolar, com algumas dezenas de alunos.
Lá no alto, a 700 metros de altitude, mesmo com um sol abrasador, estava-se relativamente bem, porque havia algum ar em movimento. Não havia ninguém a admirar a paisagem, mas nós fizemos questão de aí permanecer por bastante tempo.

O local está bem cuidado, com muitas mesas e bancos a convidarem a um bom lanche, com a erva cortada recentemente e até existem alguns divertimentos para as crianças, num mini-parque infantil. Fui surpreendido pela existência de uma enorme imagem de Nossa senhora, segurando o Menino, é Nossa Senhora do Douro, que ali foi colocada em 2002.
É interessante, visto do Penedo Durão, tudo parece pequeno! Até o rio, aprisionado na barragem, parece uma estreita fita azul que se esconde por entre as arribas por Mazouco, Lagoaça, Bemposta, Picote, e, finalmente, Miranda do Douro, que tão bem conheço. Quase me imagino do São João das Arribas, em Aldeia Nova, a olhar o rio, que calmamente desliza em direcção ao poente.
Um outro motivo de interesse do miradouro do Penedo Durão é a possibilidade de se observarem aves, difíceis de encontrar noutros locais e que estiveram na base da criação do Parque Natural do Douro Internacional. Duas delas são o grifo ou abutre (Gyps fulvus) e o abutre-do-Egipto (Neophron percnopterus) espécie migradora, que serve de símbolo do PNDI. Com alguma dificuldade consegui ver alguns exemplares destas duas espécies, pausados nos rochedos, a grande distância de nós. A maior parte dos abutres voava muito alto, em voo planado, tão longe que mais pareciam andorinhas. Seguramente que não era o dia certo para fotografar os abutres. Há muita gente que visita estas paragens exclusivamente para fotografar estas aves.

Com muita pena de não conseguirmos avistar os abutres de perto, partimos para a Congida. Junto ao rio a temperatura era mais agradável. Gozámos uns momentos de tranquilidade bebendo alguma coisa no bar e comendo um gelado. A maior parte dos frequentadores da piscina já a deviam ter abandonado, mas restava um pequeno grupo que queria aproveitar a tarde até ao fim. Havia bastantes pessoas no local! Uns passeando, andando de barco, outros, respirava-se a humidade do rio e a frescura das folhas das árvores, que tornam este lugar o paraíso de Freixo.
Foi com pena que deixámos o local. Subimos a Freixo, que atravessámos, saindo pela estrada N221 em direcção à Estação de Freixo. Satisfeitos com o passeio, apenas nos lamentámos do que gostaríamos de ter visto e não foi possível: a igreja matriz, a igreja da Misericórdia, a Torre do Galo, a capelinha de Nossa Senhora dos Montes Ermos, o “cavalo” de Mazouco,… tantas e tantas razões para voltarmos a Freixo, numa próxima oportunidade. Até lá, restam-nos um bom conjunto de fotografias para recordar e mostrar. O lema publicitário do município de Freixo faz todo o sentido, “apaixone-se”.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Pelas ruas de Freixo

Continuação da visita à Ribeira do Mosteiro


O almoço foi num restaurante na Avenida Guerra Junqueiro. Pedi um bacalhau e vinho branco, de Freixo e os rapazes quiseram lombinhos. Ainda não foi desta que gostei de uma refeição em Freixo. Por mais que me custe, tenho de admitir que já são alguns desaires. Não me considero exigente, antes pelo contrário, mas dou mais importância ao sabor do que ao número de copos sobre a mesa. Aproveitou-se o vinho, que me soube muito bem.
Dirigimo-nos para junto da igreja Matriz, onde iria começar o nosso passeio pela vila. A igreja estava fechada, a eucaristia tinha sido de manhã, ninguém a foi abrir, durante toda a tarde! Foi pena, é bela, monumento nacional e nunca a visitei. A Torre do Galo também estava fechada! Bem, eu não perdi tempo para me embrenhar pelas ruas mostrando aos meus filhos as janelas e outros elementos de estilo manuelino de que lhes fui falando pelo caminho, também como forma de justificar a importância de Freixo como a Vila Mais Manuelina de Portugal. Todos se interessaram na procura da janela “mais bonita”. Seguimos pela Rua das Eiras, demos uma atenção especial à Igreja da Misericórdia, também fechada e saltámos de rua em rua, com especial destaque para a Rua do Vale, Rua da Cadeia, Rua da Fonte Seca e Rua do Depósito.

De volta ao Largo da Igreja encontrámos um grupo de algumas dezenas de pessoas da Matela, freguesia do concelho de Vimioso, com algumas pessoas conhecidas. Tivemos direito a uma música especial, tocada no bombo e na gaita-de-foles. Como a igreja continuava fechada, seguimos para a Avenida Guerra Junqueiro, mesmo em frente à Câmara Municipal onde admirámos a lindíssimo pelourinho manuelino.
O posto de turismo é ali próximo. Fizemos-lhe uma visita e fomos recebidos com toda a amabilidade. Recebemos gratuitamente um conjunto de folhetos promocionais, do turismo no concelho e a agenda cultural para o Verão. Aproveitei para comprar quatro livros relacionados com Freixo, ou de autores freixenistas, que me vão dar uma boa ajuda nesta tarefa de Descoberta de Freixo de Espada à Cinta. Aproveitámos para beber água, estava fresca e era grátis!

Voltámos à parte mais antiga da vila para visitarmos a Casa Junqueiro e o Museu da Seda. Na Casa Junqueiro sentimo-nos em casa. Muitos dos artefactos expostos ainda fizeram parte de algumas das nossas vivências e somos profundos apreciadores da etnografia. Para os mais novos foi uma viagem a um passado completamente desconhecido, onde não havia ecrãs.
Na Sede da Associação do Artesanato, visitámos algumas salas sobre a seda. Não pudemos ver os bichos-da-seda mas saiu-nos um casulo na rifa, para recordação. Os trabalhos expostos são magníficos, mostrando todo o vigor que a seda tem nesta Associação. Também na produção da seda, Freixo, ocupa um lugar de destaque no panorama nacional.

Terminado o “circuito cultural”, foi com dificuldade que conseguimos retirar o nosso carro do Largo da Igreja. As ruas estavam cortadas ao trânsito e o largo parecia um inferno de cabos e câmaras. Já se ensaiava para o programa do dia seguinte, Verão Total.
Nós partimos para locais mais tranquilos, continuando À Descoberta de Freixo.

Continua...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Na Ribeira do Mosteiro

13-07-2008 Este Blogue chama-se À Descoberta, e, tal como todos os restantes da mesma série, exigem uma acção, a acção de descobrir, de destapar, de mostrar, ainda que sob determinado olhar, neste caso, o concelho de Freixo de Espada à Cinta. Foi com esse espírito que “desafiei” a família para uma visita ao concelho.
Planeei um passeio de encontro a muitas recordações, visitando locais que vivemos há muitos anos atrás. Em traços largos, entraríamos no concelho por Ligares, desceríamos a Estrada do Candedo até ao Rio Douro, seguiríamos até Freixo de Espada à Cinta para almoçar. De tarde, visitaríamos a vila, faríamos um passeio ao Penedo Durão e terminaríamos a tarde na praia fluvial da Congida. Sairíamos da vila em direcção à Estação de Freixo. Este percurso era ambicioso, mas parece-me bastante indicado para quem quer conhecer o concelho.
Desde que deixámos Torre de Moncorvo, tudo nos parecia familiar! Até parecia que não tinham passado 14 anos, desde que fizemos este percurso pela última vez!
Chegámos a Ligares rapidamente. Fizemos uma curta paragem no largo, junto à Capela de Santa Cruz, admirando a antiga aldeia. São visíveis bastantes melhoramentos, é uma grande aldeia que valerá bem uma visita, numa outra oportunidade.

Ao longo da estrada N325 conhecida pela Estrada do Candedo surpreendeu-me a nudez dos montes. A Primavera já se reduziu a cores de palha, intercalando com alguns olivais ou amendoais abandonados.
Quando chegámos junto da Ribeira do Mosteiro, abrandámos a marcha. Esta paisagem é para ser admirada com calma, com tanta calma que me apetecia abandonar o automóvel e perder-me pelos montes, admirando cada vale, cada formação rochosa.
Tentei recuperar da memória todo o conhecimento de uma série de ciências terminadas em “gia” ou “fia”, mas faltavam-me as palavras para chamar às coisas pelos nomes. No entanto, penso que consegui interessar os pequenos, chamando-lhes a atenção para os dobramentos nas rochas quartzíticas. As rochas duríssimas apresentam dobras que parecem ter sido feitas com a mesma facilidade com que se torce a massa de fazer o pão.
O imaginário começou a funcionar quando avistámos a ponte sobre a ribeira, que se prolongava encosta acima levando, algures, a locais repletos de mistérios rupestres e medievais. Recordo-me de ter subido um troço dessa calçada, há quase vinte anos.

Esta calçada, conhecida por Calçada de Alpajares, é um percurso pedestre a não perder, para os amantes da história e da natureza. É um bom desafio para partir À Descoberta.
Um ponto de paragem obrigatória são as Alminhas de Candedo. Neste local há muita informação sobre a fauna, a flora, geologia e percursos. É um local único, que pouco tem a ver com a paisagem do Nordeste trasmontano. Parece que se viaja atrás no tempo, sentindo-nos pequenos, como que esmagados pelas montanhas circundantes, talvez construidas por ciclopes, onde Polifemo se esconde e nos vigia. As alminhas afastam a imaginação dos deuses pagãos, lembrando-nos que Jesus, o mesmo que ali está crucificado, moldou a face da terra, mas, no cansaço do sétimo dia, não conseguiu organizar o xisto, o quartzo e o granito que aqui, no Muro de Abalona, ainda esperam há milhões de anos pelo seu espaço.
Vêem-se pequenos pontos contra o azul dos céus. São aves muito grandes mas que voam a muita altitude. Possivelmente são grifos, também eles animais míticos. Esta visão lembrou-me que ainda havia muito caminho para percorrer.

Descemos lentamente até à estrada N221 e seguimos em direcção a Freixo. Apenas fizemos uma paragem mesmo por baixo do Penedo Durão, para admirarmos a paisagem em redor, o próprio Penedo Durão, sobre as nossas cabeças, o Salto de Saucelle e as formações graníticas do outro lado do Douro.
Era perto da uma da tarde, hora de almoçar, em Freixo.

O passeio continua...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Freixo de Espada à Cinta na RTP1


Hoje é um dia de grande promoção da vila de Freixo de Espada à Cinta, com a transmissão directamente da vila, do programa Verão Total (RTP1), apresentado por Sónia Araújo e João Baião.
Também eu pretendo fazer promoção. Deixo um "papel de parede" bastante representativo da vila de Freixo de Espada à Cinta, captada por mim, ontem, antes de chegar todo o aparato da TV!

domingo, 13 de julho de 2008

Ode ao Douro (I) - Congida


Congida

I
Sobre o arado das águas, sulcando teu leito bordado de virgindade, defendida por castelos e gigantes de granito, que só os grifos, em seu planar circular, sabem da altura, voo.

II
Acima dos lábios das margens, teu púbis é um bosque de lodões, que o sobreiral e o fragaredo continuam arribas acima.
Rente à tremura da água, esvoaçam garças-reais, depenicando-a, de longe em longe.
No morro, o abutre-do-egipto, embalsamado de hirteza, espreita a morte, qual Osíris a chegada de um mortal para lhe pesar a alma.

III
Aqui mora o princípio: para além da guerra e da paz e dos pombais da Civilização, as boas selvagens pombas das fragas, acima do simbolismo de suas irmãs civilizadas, despegam, em voo assustado, do seu inacessível fragoso reduto, voltado para o meio-dia.

IV
De regresso ao cais, a chuva vem ao meu encontro, trazendo-me a lembrança das águas primordiais, nascentes diluvianas que fizeram mares.

V
Dei o óbolo ao barqueiro, que me trouxe à vida, naturado, limpo e ressuscitado. A Civilização é um pecado, que a Natureza dificilmente nos irá perdoar.



Do livro "Ode ao Douro", de António Manuel Caldeira Azevedo.
Lello Editores, 2007.

Fotografias da Congida, 13 de Julho de 2008.